Ora como eu sei que já estão fartos dos meus textos medonhos aqui vai um excerto de um texto retirado de um livro.
“Como falhar se for político
Diga aos seus futuros eleitores que não é um sabichão, mas apenas um cidadão como qualquer outro, que deseja simplesmente ajudar as pessoas.
Explique que existe uma boa solução para cada problema – solução que ninguém imaginaria ou que, mais frequentemente, fora proposta por um indivíduo ou uma minoria que não foi escutado(a). Depois, recue no tempo, desfiando os erros. Por exemplo, explique que se teria evitado a catástrofe dos subúrbios e da insegurança na França de 2002 se não tivesse deixado os promotores cobertos pela UNR e, depois, pela UDR (o partido “gaullista” da época) expulsar extra muros as classes populares parisienses nos anos setenta, confiando a arquitectos débeis ou indignos a construção de bairros/guetos, viveiros da criminalidade, na periferia da capital e das grandes cidades.
Faça o mesmo para a guerra da Argélia, que teria podido ser evitada (como se evitou a da Tunísia graças a Mendès-France, ou a da Nova Caledónia graças a Rocard), se se tivesse prestado ouvidos a um certo número de homens (Léon Blum e Maurice Violette em 1936, por exemplo, ou, mais tarde a M.E Popie) e não a outros (nomeadamente, os que perpetraram os massacres de Sétif, em 1945).
Indique a causa do erro para cada exemplo preciso: a cupidez de uma minoria, o angelismo de outra, a indiferença da maioria.
Explique que deveríamos regressar sempre aos erros do passado, para pedir eventualmente contas aos responsáveis e, sobretudo, para não voltar a cometê-los futuramente.
Se tem impressão de se ter enganado, diga-o.
Explique que nunca e possível arrasar sem custos, que tudo tem preço – tanto a boa educação como a segurança, tanto os transportes seguros como o ar quase puro – nem que seja graças a muito menos injustiça, e, portanto, a outra partilha de riquezas e, por conseguinte, dos sacrifícios (fale eventualmente em impostos) – nem sempre para o vizinho do lado, “mas para você, caro eleitor, que me ouve e me lê”.
Se for eleito e tiver poder para isso, recuse amnistiar os cretinos que comentem fraudes, que fazem negociatas por baixo da mesa, que não respeitam os semáforos vermelhos, em suma, que colocam sistematicamente a sua interessante pessoa antes dos outros, e que, não obstante, pensam que uma sociedade pode funcionar harmonosamente nessas bases.
Etc., etc.
Normalmente, a sua carreira politica deveria ser muito breve, senão logo morta logo à nascença. Mas, cuidado, admitindo que os seus eleitores se tornem aquilo que eles fossem e que sejam talvez, pela calada, verdadeiros cidadãos, adultos e virtuosos, olhe que com um programa desses, ainda seriam capazes de o eleger.”
In Comment Rater Complètement sa Vie en Onze Leçons; Noguéz, Dominique; Éditions Payot & Rivages, 2002